Ontem a Lívia teve uma crise de choro, mais uma vez provocada pela pandemia, e fazia tempos que isso não acontecia. "Mãe, eu não quero mais ficar sozinha na escola, sem abraçar os meus amigos, a minha professora e tendo que lanchar longe de todo mundo” Aquilo, mais uma vez, me doeu. Doeu porque eu sei o quanto contato físico para ela é importante: Lívia é do beijo, do abraço e de ficar grudada. Não ter isso diariamente dificulta as coisas para ela.
Ontem ela me perguntou “mãe, falta muito pro coronavírus ir embora ?” Eu disse que não, que as pessoas estão sendo vacinadas, que os avós dela já foram, que o papai já foi e, muito em breve, seremos nós ( assim espero). Ela, que não gosta de vacina, foi dormir pedindo para se vacinar logo.
Antes de dormir me perguntou, mais uma vez, quando tudo isso vai acabar e disse que eu sempre falo que vai acabar logo e não acaba.
É, minha filha. A gente achou que ia acabar logo, a gente quis que fosse passageiro, mas não foi. É muito jogo político e pouca atitude. Falta vacina? Falta! Mas falta conscientização, falta a gente olhar pro nosso próprio umbigo e ver que devemos também fazer a nossa parte. Enquanto isso, continuamos na situação em que estamos. Procurando culpados para a crise, ignorando que há centenas de pessoas esperando um leito, culpando os desvios e aglomerando porque, afinal de contas, o dinheiro foi roubado e eu posso fazer o que quiser.
Enquanto isso, as crianças continuam sofrendo. Perdendo os pais, os avós, familiares. Sendo privadas de contato físico e social. Desenvolvendo medos que nunca tiveram. Elas seguem sofrendo enquanto os adultos seguem vivendo a vida como se não fosse necessário pensar no outro. Seguem desrespeitando decretos, vivendo a vida como se não houvesse amanhã e ignorando as outras vidas. Falamos tanto em empatia, lá no começo da pandemia, mas só falar não adianta. É necessário agir: eu, você e os governantes. Cada um com a sua responsabilidade, cada um com a sua missão. Porque, me desculpe a franqueza, é muito fácil culpar o prefeito enquanto você não faz a sua parte também. Enquanto continuarmos pensando só em nós a situação será exatamente essa, a mesma que estamos há mais de um ano.
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