O trabalho financiado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC) foi desenvolvido nos últimos doze meses com o envolvimento da comunidade Tia Eva.
A igreja São Benedito, também conhecida como Igrejinha da Tia Eva, em Campo Grande, foi alvo de estudo para elaboração de um Projeto de Restauro e requalificação de seu entorno. O trabalho, financiado pelo Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC), está finalizado e irá ser apresentado nesta sexta-feira, 16 de julho, às 10 horas, em uma transmissão ao vivo, aberta ao público, pelo canal do YouTube da Secretaría de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur).
Desde julho de 2020, a equipe está atuando no projeto e percorreu diversas etapas, como: Oficina de Cocriação envolvendo a comunidade; Identificação e Conhecimento do Bem; Diagnóstico; Proposta de Intervenção e agora irão apresentar os resultados finais do projeto que denominaram de “Centro Cultural Tia Eva” em homenagem a esta importante líder religiosa e uma das fundadoras da cidade de Campo Grande.
O projeto foi coordenado pelo Arquiteto e Urbanista, Eduardo Melo, além da equipe que é formada pelo Arquiteto e Urbanista e Historiador João Santos, a Arquiteta e Urbanista Regina Maura Lopes Couto Cortez, a Arquiteta e Urbanista Rayssa Almeida, integrante da Comunidade Tia Eva. e o Engenheiro Civil Luiz Henrique Dantas da Silva.
A escolha da Igreja de São Benedito para receber um projeto de restauro se deu pela sua relevância cultural, evidenciada pelos tombamentos estadual e municipal, bem como de seu atual estado de conservação. Além de ser uma forma de garantia da permanência dos espaços necessários para as manifestações das tradições afro-brasileiras em Mato Grosso do Sul e dos ritos de fé que envolvem a centenária Festa de São Benedito.
O projeto que será apresentado, foi pautado em eixos determinados ainda na primeira etapa do trabalho e que somaram ao objetivo direto de restauração da Igreja e de valorização de sua imagem enquanto objeto central do Centro Cultural Tia Eva.
OS 5 EIXOS CONSIDERADOS
O eixo religioso é o que mais se destaca, afinal a Igreja em homenagem a um santo de devoção da comunidade, São Benedito, de cunho cristão, templo onde são realizadas novenas semanais e tem papel importante nas manifestações ligadas a centenária Festa de São Benedito. O espaço interno da Igreja será restaurado e proposto um novo altar para abrigar e evidenciar a estatueta de São Benedito, em madeira, trazida de Goiás por Tia Eva em 1905. O espaço interno da Igreja, ainda hoje, é destinado para a realização das novenas e também como memorial, que contará com sistema de áudio, que possibilitará que o visitante ouça as histórias sobre a Igrejinha em homenagem a São Benedito, sobre a Tia Eva e sobre a Comunidade Quilombola.
O eixo cultural foi pensado em conjunto com as dinâmicas atuais da Comunidade, sendo assim, foram requalificados os espaços que servem de extensão da Igreja para a realização dos festejos centenários em homenagem ao santo, geralmente nos meses de maio, assim como servem de apoio para as diversas manifestações culturais que são realizadas nas dependências do Centro de Difusão da Cultura Afro- Brasileira.
O eixo do turismo foi potencializado com a criação de um espaço para abrigar um Centro de Atendimento ao Turista (CAT), de forma a ser gerido em conjunto com a Comunidade, principalmente para o desenvolvimento do turismo de base comunitária e venda de produtos artesanais locais.
O eixo educacional se pauta na criação de uma sala para abrigar o Telecentro, programa de educação digital ofertado pela Comunidade, além de abrigar materiais de pesquisa sobre a Tia Eva, sua Igreja e sua Comunidade. A Educação patrimonial poderá ser realizada também com a interpretação do patrimônio por meio de placas informativas em pontos estratégicos para que o visitante possa conhecer a história do local e de seus personagens.
O eixo do lazer se apresenta por meio da proposta de criação de uma pequena praça que integra a Igreja de São Benedito e o seu entorno. A proposta cria o “canto do sagrado” que abriga o Busto da Tia Eva e o Cruzeiro, como um convite e recepção ao Centro Cultural; a Praça Cultural com áreas sombreadas, bancos e espaços para feiras e manifestações culturais, como rodas de capoeira; escadarias que podem ser utilizadas como pequenas arquibancadas; instalação do novo campanário, como forma de evidenciar o sino já existente; Acessibilidade; Iluminação e Paisagismo afetivo, com a presença de Arruda, Espada de São Jorge e destaque para o pé de Mangueira.
O projeto teve a participação direta da comunidade, dos órgãos de preservação estadual e municipal e dos Conselhos de Patrimônio Cultural. “Estamos muito satisfeitos com todo o processo, apesar do desafio da pandemia que nos impediu a aproximação, conseguimos de maneira virtual um forte envolvimento dos moradores e de todos os órgãos do setor. Nossa discussão foi muito rica e ampla, de modo que nos permitiu elaborar um projeto que realmente atenda todos os interesses, inclusive já recebeu todas as aprovações de acordo com as Guias de Diretrizes Urbanísticas da Planurb.”, afirma o arquiteto Eduardo Melo.
Segundo o coordenador, o projeto, por ter sido muito debatido, já é amplamente conhecido de todos os envolvidos diretamente e agora será apresentado de maneira mais abrangente nesta transmissão aberta a todos os interessados no tema.
HISTÓRIA
A igreja da Comunidade Tia Eva foi fundada pela ex-escravizada Eva Maria de Jesus, em 1919, como promessa após ser curada de uma grave doença. Em 26 de abril de 2008, a Fundação Cultural Palmares concedeu a Certidão de Autodefinição como Comunidade Remanescente de Quilombos aos descendentes de Tia Eva que abrigam o local desde 1905. Em 1996, a igreja foi tombada pelo município. No dia 5 de maio de 1998, a Igrejinha de São Benedito recebeu o tombamento definitivo como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul.
Comments