O público foi chegando devagar, tímido no início, mas o som do metal de Fred Oliveira foi contagiando o público, que no meio do show já estava batendo cabeça, chacoalhando os cabelos e marcando o ritmo nos pés. Assim começou o Som da Concha do último domingo, 18 de setembro de 2022: a Concha Acústica Helena Meirelles foi aos poucos sendo tomada pelo som dos teclados, guitarra, bateria e vocal da turma do Fred Oliveira, que fez o show de abertura.
“Esta foi a segunda vez que a gente fez o Som da Concha. A primeira a gente fez em 2020, no formato de Live, e hoje a gente teve a felicidade de ter público, então é diferente. É diferente experimentar duas apresentações diferentes, uma com live e outra com público presencial. Como é bom ter público de novo, a gente fica muito feliz, a gente se sente muito prestigiado em poder fazer nosso som no nosso chão, na nossa terra. O balanço geral é alegria, é satisfação e honra”, disse Fred, em entrevista ao final do show.
A apresentação foi essencialmente instrumental, mas o trabalho está sendo aos poucos tomado pelas melodias com letras. “Na verdade, o meu trabalho ele é todo instrumental, nesse momento agora é que a gente está passando a lançar músicas com letra. É diferente porque eu sou de certa forma o front, eu estou ali na linha de frente da guerra, mas agora eu tenho um irmão de batalha que fica ali na linha de frente junto comigo, e eu me sinto bem apoiado, parece que a coisa se completou. É claro que eu vou continuar lançando músicas instrumentais também, esse não é o fim do instrumental, mas é muito divertido, bacana experimentar outras texturas, outros músicos compondo trabalho”.
Sobre representar o rock’n’roll heavy metal na cena musical sul-mato-grossense, tomada essencialmente pelo sertanejo, Fred Oliveira afirma que tem muita gente fazendo metal por aqui. “A gente tem muito metaleiro aí, a gente tem uma cena, lá pelos anos 1990, teve uma cena muito forte no underground, muito bem representada por colegas que hoje eu conheci, são mais velhos, mas nós temos um cenário bacana de rock, inclusive quando outras bandas vêm se apresentar para cá, a gente fica até surpreso. Tem um cenário, digamos assim, com uma certa relevância. É claro que o domínio popular aqui a gente tem a música folclórica daqui que é basicamente o sertanejo, entre outros subgêneros, mas hoje, com o advento das mídias sociais, a gente consegue prospectar outros públicos de outras regiões do país e até mesmo de outras regiões do mundo. Então eu me sinto de certa forma desafiado, mas muito animado e bem apoiado pelos amigos e colegas da época dos anos 1990 que me apoiam a continuar compondo”.
Logo depois, às 19 horas, subiu ao palco a banda Curimba, encabeçada pelo vocal de André Stábile. Neste momento as arquibancadas da Concha Acústica já estavam lotadas, com gente de pé dançando e cantando os sucessos da banda. “Foi incrível hoje, a gente sinceramente superou as expectativas, porque a gente entrou de suplente [no edital do Som da Concha], então foi em cima da hora, a gente não estava esperando que a galera ia ser tão calorosa, porque foi pouco tempo para divulgar. Mas o Som da Concha sempre tem essa energia legal, a Curimba toda vez que toca aqui a gente sai extasiado, muito feliz, pela proximidade com o público, por ser no Parque, enfim, a Concha é um lugar muito gostoso de vir tocar e quando eu estou no público também eu sinto isso, me sinto próximo dos artistas e enquanto artista eu gosto sempre de vir tocar aqui. Eu estou muito feliz, achei o show muito legal, o público veio, compareceu, cantou as músicas, levantou para dançar, é muito legal mesmo, e o fato de ter artistas locais cantando suas músicas, autorais ou não, eu acho muito legal a gente poder estar aqui mostrando nossa arte”.
Durante o show, André Stábile falou sobre a importância de o público prestigiar os artistas da sua rua, da sua comunidade, e sobre a importância do fomento à cultura pela Fundação de Cultura e instituições governamentais. “A Curimba só existe porque a gente teve esse apoio lá no início. A Curimba é uma banda que foi formada por amigos que moravam na mesma rua. E a gente se encontrava na rua, era uma época em que as crianças ainda brincavam na rua, a gente se encontrava na rua, e aí surgiu esse desejo de montar a banda. E aí a gente foi para a faculdade, e a gente se encontrava na faculdade, e ali no meio da Universidade, da UFMS, foi se criando um núcleo artístico dos músicos, mas totalmente informal, nada profissional. Mas aquele movimento ali foi virando um combustível. Ou seja, se não tivesse rolado esse apoio dos nossos amigos lá atrás, a Curimba, a gente teria desistido lá atrás”.
“A gente participou do Festival Universitário da Canção, e aí eu lembro até hoje, foi a primeira apresentação da banda, e as pessoas no teatro levantaram e foram lá na frente do palco e foi isso que acendeu uma fagulha na gente, ‘isso pode ser um sonho que realmente pode dar certo’, e aí, foram vários incentivos durante a nossa carreira. A Curimba tem 15 anos de história, foram 15 anos de incentivo. É lógico, a gente também teve muita pedra no caminho, muita porta na cara, isso é a vida, mas se não tivesse esse incentivo da galera... Toda banda é local, antes de virar nacional e internacional, ela é local. Então se não houver esse apoio local, ninguém vai virar nacional, e internacional. Mato Grosso do Sul é um Estado, Campo Grande é uma cidade em especial um celeiro de grandes artistas, em todos os aspectos da gama da arte, em todos os lados da arte, então a gente precisa ter apoio, tanto dos órgãos, das Fundações de Cultura, das Secretarias de Cultura, mas também do público. Tem muita gente boa escondida, nos bairros aí, em suas casas e que estão perdidas porque não têm o incentivo”.
E fique ligado!!! Porque no próximo domingo continuam as apresentações na Concha Acústica Helena Meirelles, que fica no Parque das Nações Indígenas. No dia 25 de setembro será a vez de Encontros de Quarentena e Matu Miranda. Você não pode perder! Com início às 18 horas. A entrada, como sempre, é franca.
Texto: Karina Lima - FCMS
Fotos: Daniel Reino - FCMS
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