Nesta quarta-feira, 19 de junho, é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. Esta data é comemorada em homenagem ao dia em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto – o primeiro cinegrafista e diretor do país – registrou as primeiras imagens em movimento no território brasileiro, em 1898. Afonso Segreto fez imagens da entrada da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, a bordo do navio francês Brésil - a primeira filmagem em território nacional.
Neste dia, a Fundação de Cultura conversou com três cineastas sul-mato-grossenses, Marinete Pinheiro, Fábio Flecha e Ulisver Silva, para saber um pouco mais sobre a produção audiovisual aqui no Estado.
Os três cineastas são unânimes em confirmar a importância da Lei Paulo Gustavo em impulsionar recursos para o setor. “A gente tem uma perspectiva extremamente interessante que é o investimento da Lei Paulo Gustavo no Estado, então a gente está vendo a galera filmando, curtas metragens porque já saiu recurso do município. A produção no Estado está em alta graças a esse recurso. A gente viu que historicamente as pessoas produziam muito sem dinheiro, mas continuavam produzindo, fazendo seu curta metragem, fazendo histórias, e agora com o recurso ficou muito mais interessante este panorama, e a gente espera realmente que esses investimentos continuem, porque a Lei Paulo Gustavo é emergencial, mas que as entidades públicas, os entes públicos consigam ver o audiovisual como economia criativa que gera emprego, muita gente trabalhando, gera um recurso para a economia do Estado, diz a cineasta Marinete Pinheiro.
Fábio Flecha confirma dizendo que o audiovisual no Estado está em um bom momento. “Depois do período da pandemia, que foi terrível para o setor de produção audiovisual no Brasil, a Lei Paulo Gustavo, que agora está começando a ser executada, é uma ferramenta primordial para os produtores. No fomento para o audiovisual, cinema e outros afins, o cinema é o carro-chefe mas a gente tem produções como séries de TV, documentários, programas para Internet. A Lei Paulo Gustavo está trazendo entre apoio de editais do Estado e Município são quase 30 e poucos milhões de reais que estão sendo colocados para produtores de audiovisual, desde os mais novos que estão começando agora, até aqueles que já estão atuando há muito tempo no segmento. Sem dúvida a Lei Paulo Gustavo é um grande incentivador, é um bom momento para a produção audiovisual e acredito que outras ações que acontecem dentro da lei Paulo Gustavo como formação, cursos, também vai incentivar a produção de novos projetos no futuro, formação de novos profissionais, de novos produtores, roteiristas. Acredito que no próximo ano, em 2025, 2026, a gente vai ter grandes produções aqui em Mato Grosso do Sul”.
Ulisver Silva concorda: “Estamos num momento de um boom de produções locais, muito por conta da chegada dos recursos da Lei Paulo Gustavo, que pela primeira vez trouxe recursos expressivos para a produção local tanto para curtas metragens quanto para filmes e séries, pela primeira vez roteiristas, diretores, produtores, estão tendo acesso a recursos expressivos para a produção local”.
Os cineastas também reforçam a importância da formação neste processo, que veio a ser enriquecida principalmente com o curso de Audiovisual da UFMS. “Eu vejo também uma coisa muito boa que a gente tem, o curso de formação em Audiovisual da UFMS, que as primeiras turmas são bem recentes, mas a gente vê pessoas saindo com uma qualificação diferente do que a gente tinha anteriormente, e isso é muito importante. Por exemplo para mim, que trabalho, que preciso de equipe, eu consigo ver essa perspectiva. Avançamos muito no último ano, avançamos muito na formação, na qualificação das obras que estão saindo, uma visão de mercado externo também que contribui para a formação”, diz Marinete Pinheiro.
Para Ulisver Silva, a chegada dos acadêmicos de Audiovisual da UFMS foi fundamental para a mudança de cenário: “É um pessoal que está vindo com bastante conhecimento, com bastante repertório, que também já vai acessar os recursos da lei Paulo Gustavo. No passado os produtores de audiovisual eram pequenas iniciativas, iniciativas pontuais, poucos produtores, agora nós temos muita gente entrando, vários profissionais de vários setores da produção audiovisual, estamos num momento singular do audiovisual do Estado e creio que muita coisa vai mudar daqui pra frente em termo de produções, profissionalismo, qualidade das produções e iremos ver o resultado daqui a alguns meses, quando essas produções começarem a ser distribuídas, começarem a participar de festivais importantes, de repente até ganhando prêmios, creio que o audiovisual do nosso Estado irá dar um salto em pouco tempo com essa conjuntura de fatores que estão ocorrendo”.
“Além disso, neste ano de 2024 foi feita a segunda caravana de profissionais do audiovisual para participar da Rio 2C, que é um evento importante do audiovisual nacional, 18 profissionais foram lá apresentaram projetos para grandes empresas, em paralelo com a Lei Paulo Gustavo, com a chegada de novos realizadores, temos realizadores locais buscando acessar o mercado nacional de produção audiovisual. Se tudo correr bem poderemos daqui a alguns anos sermos exportadores de conteúdo para streamings e TVs nacionais e até de fora do Brasil”, diz Ulisver.
Marinete Pinheiro foi uma das cineastas sul-mato-grossenses que fez parte desta caravana. “A gente acabou de voltar do Rio 2C, este evento de economia criativa mas muito voltado para o audiovisual, que a gente tem um panorama de onde nós estamos, o que precisamos avançar e como podemos avançar. Então tem uma questão legal de regulamentação que precisa vir também. Outra coisa que aconteceu foi a criação de janelas para exibição dessas obras que são os festivais de cinema, a gente tinha só o Festival em Ivinhema, a gente viu agora recente o festival em Amambai que acabou de ser lançado esta semana, então essas janelas também são interessantes para o audiovisual porque cria um público aqui, que esse público precisa conhecer que existe produção em Mato Grosso do Sul. Isso é muito importante porque você muda o olhar quando você vê que aqui também se produz cinema. Isso é uma dificuldade minha quando eu falo assim ‘eu produzi cinema, audiovisual’, as pessoas falam ‘como? Eu nunca vi nada’, quais são as janelas que a gente tem para exibir. O outro aspecto é a formação. Além do curso de Audiovisual há a perspectiva de cursos rápidos, livres, focados nesse processo de qualificação do material audiovisual produzido no Estado”.
Os três aproveitaram a oportunidade para falar sobre suas atuais produções. Marinete no momento está trabalhando numa série intitulada O Alquimista dos Sabores. O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Estado. “É uma série que eu estou muito empolgada em fazer, a gente viaja os três biomas do Estado filmando sobre os personagens, é um cara de Campo Grande que faz esse trabalho de temperar as refeições e não criar pratos, ele ensina você a temperar. Eu também estou com um projeto que eu estou dirigindo na fronteira, graças à LPG, fui convidada para dirigir um documentário lá que chama Caminho dos Ervais, que traz um recorte sobre o processo da erva mate no Estado, com a Lílian que me convidou para fazer essa direção, vou dar um curso de documentário, que é a terceira edição, esse curso nasceu no Museu da Imagem e do Som em 2017, a gente faz outra edição em 2021, e agora a gente faz a terceira edição graças ao recurso da Lei Paulo Gustavo. É um curso muito interessante porque reúne pessoas das mais diversas áreas que também produzem obras. Recentemente eu lancei meu primeiro vídeo clipe que eu fiz como diretora geral, que é uma música da Anarandá, e foi uma experiência fazer esse vídeo clipe, tem uma pegada muito documental, que é a minha área, eu sou documentarista, teve resultado maravilhoso, eu gostei muito. Eu tenho colaborado com vários outros projetos e trabalhos criando essa perspectiva de fortalecer, de mostrar nossas histórias e dizer que Mato Grosso do Sul é muito rico em personagens, em histórias, memórias, e que o audiovisual tem um caminho muito fértil, muito produtivo, por conta dessa criatividade desse lugar muito lindo que a gente mora”.
Fábio Flecha atualmente está trabalhando na finalização de um longa-metragem,” Do Sul: A Vingança”. “Ele tem um tom de humor mas também faz uma crítica sobre as fronteiras brasileiras, como o nosso Estado sofre com uma fronteira tão grande, a gente acaba sendo a porta de entrada para um monte de problemas de tráfico, de contrabando, o filme critica isso de uma maneira bem humorada e usa aquela situação reincidente para quem é sul-mato-grossense de alguém falar Mato Grosso e não colocar o do Sul, que a gente sempre vê aqui acontecendo, tanto em redes sociais quanto em eventos ao vivo, pode-se até se dizer que jornalistas, presidentes já cometeram a mesma gafe, e o sul-mato-grossense não gosta disso, fica irritado, então a gente usa isso como mote do filme para falar um pouco de Mato Grosso do Sul”.
“Em 2023 nós finalizamos uma série de TV de treze episódios, uma série documental com dramatização, com o Gabriel Sater como apresentador, que acabou de estrear no Prime Video e na Apple TV também, a gente tem muito orgulho de uma produção de Mato Grosso do Sul estar circulando a América Latina através dos streamings. Em breve a gente começa a produção de uma série chamada Não me lembro, uma comédia, que é um projeto patrocinado pela Lei Paulo Gustavo, pela Fundação de Cultura do Estado, que a gente prevê que vai ser um projeto muito bom, deve ter em torno de cem pessoas diretas trabalhando nesse projeto, e muito mais indiretamente, que a gente vai aplicar tudo isso no Estado e depois este filme vai circular o mundo, vai continuar através de salas de cinema, de festivais, depois vai para a televisão, para streaming, é o que a gente pretende com essa produção nova. Acredito que o cinema tem uma grande vantagem em ser um divulgador, você grava numa determinada região, aqui em Mato Grosso do Sul, e o mundo vai estar vendo Mato Grosso do Sul. Isso faz parte também do incentivo ao turismo sul-mato-grossense. O audiovisual só tem a crescer, a gente tem que sempre andar de mãos dadas com o poder público, no nosso caso a Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte e a Fundação de Cultura para que a gente continue fazendo com que isso cresça, porque é um setor que emprega muita gente, tem baixa emissão de carbono, é bom do ponto de vista cultural e muito mais do ponto de vista social e econômico”, diz Fábio.
Ulisver falou sobre o seu primeiro curta metragem profissional lançado em 2018, “As invenções de Atkins”, um curta juvenil que narra as aventuras de um garoto que cria seus próprios brinquedos. “O filme foi financiado com recursos do FMIC, da Sectur, Prefeitura de Campo Grande, passou por vários festivais, está presente em plataformas de compra e aluguel, e este ano eu tive a felicidade de ver o filme novamente sendo exibido na cidade por meio do projeto Transcine CirculaCG, que levou o meu curta, assim como outros curtas infantis, para diversos bairros da cidade de Campo Grande. O curta também participou da primeira mostra Pretou, no Capivas, e volta e meia tem sido exibido em escolas, entidades, cineclubes, o que dá muita felicidade de ver a obra circulando. Atualmente estou trabalhando na pós-produção do meu primeiro longa-metragem, Enigmas no Rolê, que está sendo financiado com recursos do FIC e de dois editais da Lei Paulo Gustavo. O filme já teve suas filmagens quase que concluídas e está agora em fase de montagem, composição de trilha sonora, criação de cenas de animação e etc. A previsão é este longa ser lançado em novembro”.
Para o presidente da FCMS, Edu Mendes, “Mato Grosso do Sul produz cinema de qualidade e a fundação quer cada vez mais tornar isso uma fonte de geração de emprego e renda apoiando por meio de editais, colocando a Filme Comission pra funcionar, para trazer produções nacionais pro MS, a Feira Pantanal Film Fest que vai tratar de produção e mercado, tudo isso pode alavancar as produções e colocar MS no mapa do cinema brasileiro de fato, tanto como produtor como destino cenográfico”.
Texto: Karina Lima / FCMS
Fotos: Acervo dos entrevistados
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