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O design sul-mato-grossense no mapa do design brasileiro

Foto do escritor: eusoumseusoums

A dupla de designers sul-mato-grossenses Mary Saldanha e Paula Bueno, criadoras do

estúdio POLCA tiveram seu trabalho selecionado para a 14a Bienal Brasileira de Design, promovida pela ADG (Associação de Designers Gráficos do Brasil). No último mês foi realizada a seleção de projetos através de um júri especializado, englobando trabalhos de todo o país dos últimos cinco anos.


A Bienal, que acontecia a cada 2 anos, teve um hiato nos últimos tempos devido à

pandemia, e volta com a força de novamente reunir um referencial de produção brasileira de design, que acontecerá em dezembro na cidade de Aracajú-SE. É a primeira vez que a

mostra acontece em uma cidade do nordeste. Como resultado desta Bienal, também será produzido um catálogo que reunirá os trabalhos selecionados, servindo de referência para os profissionais da área e deixando um importante registro da produção nacional.


A criação de Mary e Paula que vai compor esta seleção do design brasileiro é a coleção Horto-Gráfico, em que a dupla desenvolveu grafismos e frases inspiradas em formas e soluções da natureza ao redor, especialmente espécies do Cerrado e Pantanal. Os desenhos são impressos manualmente no estúdio em produtos que compõem o cotidiano, como peças de vestir, jogos de cama e jogos de mesa.


A COLEÇÃO HORTO-GRÁFICO


A ideia de criar esta coleção nasceu da vontade de saber mais sobre as espécies que estão

ao redor, saber reconhecer as árvores e plantas que as pessoas passam todos os dias pelas ruas. Saber nomear é o primeiro passo para poder compreender a função, importância e assim conseguir preservar as espécies nativas. Neste processo, contaram com o apoio da bióloga Letícia Couto Garcia, ganhadora do prêmio “Para Mulheres na Ciência” promovido pela L Oréal, Academia Brasileira de Ciências e Unesco. Letícia, além de indicar espécies locais e explicar com mais profundidade o funcionamento do Cerrado, vestiu as peças para a divulgação da coleção.



Outra pesquisa que permeou a criação da coleção foi a visita a Nereu Rios, pesquisador de campo e grande mestre conhecedor das espécies nativas, responsável pelo plantio de mais

de 50 mil mudas em Mato Grosso do Sul nas últimas décadas, em espaços como o Parque das Nações Indígenas, por exemplo. Em seu viveiro, Nereu mostrou os frutos e sementes colhidos em suas excursões pelo cerrado brasileiro, e as designers tiveram acesso direto a um grande repertório delas.


Deste mergulho nasceu a coleção Horto-Gráfico, com um repertório de 10 estampas, como

por exemplo, a estampa Jatobá. Nela, as designers usaram o fruto do jatobá como carimbo

para figurar a estampa, acompanhado da frase “Raiz profunda, sombra larga, frutos fortes”

.

Em outra criação, desenharam a casca do angico, que virou uma grande renda de padronagem contínua, aplicada em um jogo de cama que traz nas fronhas a frase “Quemtece abrigo… adormece sereno”, inspirada na característica das espécies do bioma cerrado de criarem uma proteção com as cascas grossas e frutos resistentes. As peças da coleção podem ser vistas no estúdio-loja da POLCA e em breve no site da marca.


O ESTÚDIO


Mary e Paula trabalham juntas desde 2008 e em 2019 lançaram a POLCA, com o intuito de

direcionar suas criações a temas do entorno, trazendo o olhar das criadoras para elementos

culturais e dos biomas locais para compor peças do cotidiano. Um pé nas artes, outro no

design.




A dupla lançou uma média de duas coleções por ano desde o surgimento da POLCA e

também realizaram colaborações com outros artistas locais. Em 2019 lançaram a coleção

¨”Cantar.o.lar”, uma parceria com o compositor Geraldo Espíndola, com peças que trazem

trechos de músicas como Vida Cigana, É Necessário e Cuñataiporã junto a grafismos

criados pela dupla de designers. Em 2022 lançaram a coleção “Amo.lar”, com suas

impressões sobre a Serra do Amolar, região mais remota do Pantanal e que precisa de

nossa atenção, especialmente nos últimos tempos, em que tem sofrido com as queimadas.


As peças são impressas com a técnica de serigrafia, uma a uma no estúdio. Na produção,

as designers contam com o apoio da auxiliar de serigrafia Larissa Correa, que se entusiasmou com a área e iniciou os estudos em design este ano. A costura das peças é

feita em ateliês locais como o Ateliê da Jô e Vanda Sol Ateliê, aliadas fundamentais para a

formatação dos produtos. Assim as peças passam a compor o cotidiano de quem se

encanta com tanta história traduzida em pedaços de tecidos.


Com um trabalho que alia a poesia, arte e design, Mary Saldanha e Paula Bueno têm o

objetivo de alimentar o senso de pertencimento, valorização cultural e cuidado com a

natureza, matéria urgente nos dias atuais. Começam a colher o fruto do reconhecimento de

suas criações e ajudam a semear a nossa presença cultural no país ao compor o catálogo

da Bienal Brasileira de Design.

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