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“Meus olhos são voltados para o belo”

Oi, leitores lindos! O texto dessa semana é encerrando o mês de outubro contando uma parte da história de uma mulher incrível, que luta bravamente contra o câncer de mama. Uma forma de  homenagear o movimento do outubro rosa, mês de conscientização da doença, nossa missão é trazer histórias como essa: verdadeira, emocionante e inspiradora. Vem comigo! 

Quem conhece a Regina de cara vai observar uma característica muito marcante: seu sorriso. Ela é do time do sorriso largo, fácil e contagiante. Uma mulher inteligente e que sempre se preocupou muito com a alimentação e estilo de vida. 


Era época de natal, a correria do final de ano e preparativos das festas, veio a surpresa. Um dia deitada no sofá em casa, sua mão escorreu pelo seu seio e ela sentiu um caroço desforme, ficou preocupada e logo procurou um médico. 

Regina sempre foi muito cuidadosa com sua saúde. Exames períodos corretos. Exercícios físicos, alimentação, tudo o que acreditava fazer para seu bem, fazia. 


Os primeiros exames não deram nada. Tudo normal. Lembra no texto passado que disse sobre a importância de conhecermos nossos corpos? Pois bem. Ela conhecia. Sabia que algo não estava bem. Procurou outro médico, que a aconselhou fazer os exames em uma clínica específica. Fez e, infelizmente, teve a comprovação que seu corpo não estava bem: nódulo maligno de alto grau nuclear. 

Segundo ela, aquilo foi uma tapa na sua arrogância em ser saudável. Como uma pessoa que se cuidava tanto, estava com câncer avançado? Veio a revolta, a indignação e o questionamento. 


Conta que ficou bastante desnorteada, pois é muito difícil receber uma notícia assim. De uma doença como essa, porque em sua cabeça parecia uma sentença de morte, mas não era. Depois do susto, percebeu que quanto mais questionava o porquê daquilo estar acontecendo, mais se vitimizando estava, neste momento resolveu ressignificar, buscar soluções e tentar entender para quê a doença veio. 


Algo que comentou durante a entrevista foi que; concluiu que o câncer é uma doença democrática. Ele não escolhe perfil. Ele ataca crianças, adolescentes, pobre, rico... 


Quando mudou o foco de tentar entender o porquê e sim para quê a doença veio, pôde concluir que era um grito de socorro do seu corpo, para a vida que estava vivendo.

Regina esteve em um relacionamento abusivo por mais de 20 anos. Uma pressão psicológica muito grande dentro de casa. Sofria agressões psicológicas e não conseguia sair do relacionamento. Principalmente pelo filho que era pequeno e não queria que ele vivenciasse uma separação. 

Infelizmente existem muitas pessoas cruéis no mundo. E ela pôde conhecê-las debaixo do mesmo teto. Seu ex-companheiro fazia de tudo para ela se sentir mal, e quando veio o um dos efeitos da quimioterapia; a queda de cabelo, ele colocou na cabeça do filho que era para ter vergonha da mãe. Uma criança de apenas 12 anos, totalmente vulnerável, ficava olhando fotos dela com cabelo e começou a se afastar. 


Com isso, Regina não tinha com quem contar, já que seus pais são idosos com problemas de saúde. Sua saída foi encarar tudo de cabeça erguida e sozinha. 


Nesse caminho dolorido de quimioterapia e radioterapia, recebeu carinho de muitas pessoas, até de quem não imaginava. Por um lado havia crueldade, por outro havia amor. E ela é muito grata a isso. 


Sua fé foi renovada: “a vida é pura dualidade, pois no momento em que achava que iria viver a pior fase da monha vida, foi o momento de maior intimidade com Deus. Foi uma aproximação e transformação”, comenta. 


Outra saída para acalmar o coração e tentar encarar de forma mais leve, foi a dança do ventre. Regina conta que a dança trouxe possibilidades, porque ela mostrou várias coisas que você é capaz de fazer com o corpo. E mais, conseguiu entender que ela não era apenas mama, existem outras partes do corpo que podem ser valorizadas e usadas a seu favor. A dança lhe trouxe paz com o espelho, paz de espírito e aprendizado para lidar com a própria essência. 


A partir do momento em que assumiu tudo sozinha, teve que enfrentar a batalha da quimioterapia e radioterapia só. Uma vez um enfermeiro a presenteou com um pacote muito lindo, onde havia uma peruca. Ele contou que tinha sido de uma adolescente e que ela poderia usar. Naquele momento ela acreditava que não precisaria, porém achou lindo o gesto de carinho do enfermeiro. Depois de um tempo descobriu que a equipe a admirava por estar sempre sozinha e seguindo firme. 


O cabelo caiu. Chegou um momento em que a dor no couro cabeludo era muita. Já estava com cabelo ralo. Resolveu ligar para o especialista que o enfermeiro havia indicado e raspou a cabeça. Com isso, entrou no mundo das perucas. Ela lembra com carinho dessa época, “gostei muito de usar perucas. Foi onde usei e abusei das fotos. Tive coragem de usar cor Fanta laranja. Gostei muito desse universo fake”. 


Outro momento marcante durante o processo foi em um espetáculo que ela foi chamada para participar da dança do ventre. Sentiu vergonha. Não tinha coragem de se apresentar, pois estava sem cabelo. Sua professora insistiu com o argumento que o palco não era o mesmo sem ela. O tema era folclore e com isso, poderia usar o lenço na cabeça que combinaria. Topou ir. Chegando ao local, todas as mulheres estavam com o lenço na cabeça. Aquele gesto a fez se sentir acolhida e amada. 


No meio de toda tempestade ela buscou sempre se manter firme, com muita fé e esperança, por mais difíceis que alguns dias parecessem. Ela disse uma frase muito bonita: meus olhos são voltados para o belo. 


Em seu primeiro dia das mães sozinha, já que seu ex-companheiro havia ficado com seu filho, durante a separação de forma totalmente injusta. Foi em um projeto em, um bairro muito humilde de Campo Grande, onde conseguiu se sentir bem. Passou a participar do projeto. “Nós recebemos a verdadeira ajuda, quando pensamos em ajudar alguém”.

Regina é uma mulher muito forte. Que enfrentou tudo sozinha e com muita coragem, e ela se orgulha disso: acredito que a minha história só foi feliz até agora. Porque os protagonistas dela foram eu e Deus”.


Hoje, após cinco anos da descoberta, duas cirurgias, ela decidiu que nenhum exame decretaria sua vida. Se cuida, faz o tratamento correto. Sempre busca soluções, não teme caso precise fazer mais cirurgias e até mesmo mastectomia total, pois acredita nos recursos disponíveis da medicina. 

Sua maior motivação de luta foi seu filho. Porque ela dizia que ele era muito novo para ficar sem mãe. E ela ficou três anos sem conseguir vê-lo. Esse ano houve o reencontro e o coração de mãe uma acalmada. 


Com todos os acontecimentos ela concluiu que não adianta cuidar do corpo, se o resto da vida esta uma desordem. Concluiu que existe muito amor no mundo, independente da crueldade. Concluiu que existem pessoas preconceituosas e ignorantes, que chegaram a perguntar “como ela pegou” câncer. Concluiu que sobre o incentivo de denunciar abuso, é mais discurso político, pois quando a vítima denúncia, existe todo um processo de revitimização e por isso entende o porquê muitas mulheres recuarem. Concluiu que Deus é seu maior aliado. Concluiu que é mais forte do que imaginava, e se tornou outra mulher. Concluiu que câncer em sua vida, foi uma doença muito conselheira, pois se não fosse por ele, talvez nunca tivesse saído de uma relação abusiva de violência doméstica. Concluiu que a vida vale muito, só temos o instante e temos que aproveitar. 

Quando pedi fotos para ilustrar a matéria, ela sorriu e disse que tinha várias. Desde nua e crua a perucas diversas. Mas uma, em especial, ela gosta bastante. A da franjinha, que está aqui no texto, a explicação é simples. “Mostra meus braços com as veias queimadas da quimioterapia. Eu olho para as minhas cicatrizes com um certo orgulho. Vejo naquelas feridas aquela ambivalência poética: aqui doeu, aqui curou”. 


Nome: Regina Célia 

Idade: 49 anos

Uma frase: O horizonte só tem fim para quem se limita.

Uma música: Céu de Santo Amaro, Flávio Venturini.

Um (a) cantor (a): Nina Simone.

Um livro: Madame Bovary.

Uma pessoa: Meu filho.

Um sentimento: Amor.

Um Dia: O dia do reencontro com meu filho.

Uma dança: Dança do ventre.

Uma mensagem para quem está passando por esse momento e para quem acabou de descobrir: Informe-se, procure fontes científicas, volte-se para as histórias de superação, doe seu amor ao próximo, tenha fé.


Eu disse que vocês iriam se emocionar. Até semana que vem :) 

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