Vou começar o mês com um depoimento bem íntimo e pesado. Na verdade, deixei para falar sobre esse assunto justamente agora de uma forma “proposital”. Hoje começa o setembro amarelo, que é uma campanha de prevenção ao suicídio.
Acredito que nunca estarei pronta para falar sobre esse assunto. Mas ao mesmo tempo é algo que precisa ser falado por existir tanto preconceito e falta de informação.
Quando alguém me conhece, logo de cara percebe uma característica muito marcante minha: a risada. Sou do time do riso frouxo. Da gargalhada escandalosa. Do sorriso gostoso. (Por mais que eu não goste do meu, mesmo após anos de aparelho ortodôntico hehehe).
É difícil acreditar que por trás dessa risada. Dessa mulher de 1,73 de altura que, geralmente está sorrindo ou pronta para dar um conselho positivo para quem for preciso, tenha uma pessoa que luta há anos contra a depressão.
Antes da primeira manifestação do lúpus, eu tive uma crise de depressão muito forte. Pânico. Ansiedade. E, naquela época cheguei a me machucar. Nada muito grave, mas foi uma choque para minha família. Meses depois, tive a primeira crise do lúpus e lutei bravamente por minha vida, contraditório, eu sei.
Mas lutei. Outra característica que as pessoas associam a mim: força. Não gosto porque fico sempre com medo de decepcionar essas pessoas e não ser forte suficiente. Mas sempre luto. Por mais cansada que eu esteja, luto. Tanto dentro do hospital quanto fora.
Eu não lembro exatamente o dia. O horário. A roupa que eu estava. Não lembro. Mas eu cansei. Entreguei o jogo. Eu cai. E não foi um tropeço andando pela calçada. Não, eu cai em um abismo. E simplesmente não encontrava forças para levantar.
Fisicamente eu conheço meu corpo. Depois de dez anos lutando por ele e contra ele, a gente aprende. Então quando eu sinto uma dor física, sei lidar com ela. E olha, meus caros... Eu já senti muita dor física, hein! Mas nenhuma, nenhuma dessas dores se comparam a dor psicológica que senti.
Talvez tenha sido por isso que cheguei ao extremo de tentar acabar com minha própria vida. Porque a dor era tão profunda e invisível, que eu precisava entender, precisava ver, precisava arrancar ela de mim.
A depressão é uma dor na alma. É uma ferida que sangra e não conseguimos ver. Eu queria ajuda, engana-se quem pensa que não, mas eu não tinha forças para pedir. Viver se tornou indiferente para mim.
Eu perdi o sentido da vida. Perdi o brilho no olhar. Perdi o meu sorriso malandro de canto de boca. Perdi meu jeito maroto de falar. Perdi minha memória. Perdi momentos. Perdi abraços. Perdi beijos. Perdi risadas. Perdi viagens. Perdi um precioso tempo.
Eu que amo viver queria acabar com minha vida. Mas não era acabar com minha vida em si. Ninguém quer acabar com sua vida. A gente quer acabar com aquela dor insuportável, surreal. Parece clichê dizer isso, mas é a verdade nua e crua.
A gente precisa de motivos para querer levantar da cama. E, por mais que eu tenha uma família e amigos incríveis, eu não conseguia. Eu sentia uma tristeza sem fim. Uma dor no peito, um vazio, eu me sentia perdida. Eu ficava em modo automático. Por dias eu dormia. Trocava o dia pela noite. Foi um período complicado.
Esse mês vou falar bastante sobre esse assunto, se ajudar uma pessoa que seja, já estarei feliz. Expor esse assunto da forma como decidi é muito delicado, tanto por julgamento, quanto por cutucar a ferida, mas eu tomei a decisão de abrir essa parte de minha vida, lá atrás quando tornei pública minha história no meu TCC. Então, como paciente e acima de tudo, como comunicadora, me sinto no dever de divulgar informações que possam servir de ajuda para alguém.
É difícil, é extremamente escuro esse lugar, a gente acha que não tem saída, mas tem. Acredite em mim. Procure ajuda. Se você conhece alguém que esteja passando por uma situação parecida, cuida dessa pessoa.
E lembre-se: sua vida é muito valiosa, tenha fé, não desista, não queira dar um ponto final, no máximo um ponto e vírgula e cont;nue!
*Caso precise de ajuda, ligue 188 - CVV - Centro de Valorização da Vida
ความคิดเห็น