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KLAUS: Remontando a Lenda Natalina num Mundo Pós-natalítico de 2019

Atualizado: 25 de mai. de 2020


[Atenção: Se você não gosta de Spoilers, assista o filme e depois leia esse texto. Agora se você não liga para revelações e reflexões sobre o enredo… Aqui é o seu lugar!!!]

Em um mundo cada vez mais capitalista, onde o Natal se resume ao comércio de brinquedos, quantidade de confraternizações e “amigos-secretos” que as pessoas vão participar, mas não se acredita mais em espírito natalino, a dúvida que fica é: “Por quê afinal celebrar o Natal se não acreditamos mais em Papai Noel?”

A animação em 2D é uma história original e dirigida por Sergio Pablos e grande equipe técnica de produção e elenco. Contudo, o filme não tem magia, não tem Bom-Velhinho usando gorro com roupa vermelha e nem tenta criar o mundo maravilhoso e perfeito do natal. Ora, em 2019 sabemos que o mundo não é perfeito, que somos nós mesmos ou nossos pais que compram nossos presentes de natal e que não existe Papai Noel, nem Santa Klaus. Sabemos que somos “Nós” o nosso próprio Bom-Velhinho e vamos às lojas comprar nossos brinquedos com o dinheiro do nosso bolso e do nosso salário e não queremos que o mérito vá para um vôzinho gordinho enfadonho que só usa vermelho. Mas o longametragem intitulado “Klaus” é justamente a obra realista que precisávamos para os nossos dias. A receita é bem simples, um filhinho burguês de Carteiro-Chefe que tem boa vida, chamado Jesper (dublado por Rodrigo Santoro) é mandado por seu pai para ser carteiro por um ano como castigo e aprender algum valor significativo dando duro na longínqua, gélida e transtornada ilha-cidade de Smeerenburg, o local mais realista do mundo, onde a terra é fria e as pessoas são intolerantes há várias gerações. É lá que elas discutem, brigam, se agridem, simplesmente porque os “Krums e os Ellingboes não se misturam” disse alguém, criando uma rixa igual entre os Mouros e os Cristãos, os Oliveiras e os Suassunas, a Direita e a Esquerda, esquecendo que o seu ponto de vista não pode se transformar em falta de respeito (jamais!).

Jesper conhece um solitário velho lenhador que sabe fazer brinquedos, Klaus (dublado por Daniel Boaventura), e a improvável amizade entre eles começa a modificar o futuro da cidade, pois afeta diretamente as crianças. Klaus reconhece o encontro místico com Jesper como uma oportunidade oportuna e nada ao acaso de redenção e doar os brinquedos que estavam parados, e Jesper está obsecado em atingir sua meta de cartas para sair do castigo e da cidade, mas ao entregar o primeiro brinquedo, pela chaminé, e ver a felicidade genuína de uma criança solitária, eles descobrem um propósito maior e a criança espalha a notícia que mandando cartas ao velho Klaus, elas ganham brinquedos. Toda mitologia que ouvimos na infância acontece de forma lógica, é um filme para as crianças de hoje com argumentos todos lógicos e racionais, mas também para os adultos de hoje que precisam resgatar certas reflexões.

Klaus diz: “Um ato gentil de verdade sempre gera mais gentileza” e Jesper responde: “Todo mundo sempre quer algo em troca”. E ambos estão certos. Jesper cria o mito da lista das crianças travessas que não ganham brinquedos, e logo isso transforma a cidade que antes vivia afundada em conflitos agora em um lugar onde as crianças praticam boas ações em busca de uma recompensa, um simples brinquedo. Os adultos tentam sabotar os brinquedos, o carteiro e o lenhador para fazer com que as crianças voltem as más condutas de outrora, mas o roteiro não conta com nenhuma salvação mágica nem intervenção divina para impedir a maldade dos adultos, embora seja realmente possível ver uma transformação nos valores dos personagens e das crianças ao final da narrativa.

Mas afinal de contas, você que é seu próprio Papai Noel, tem si comportado bem na escola, na faculdade, no trabalho, respeitou todas as leis de trânsito, não usou o celular ao volante, foi um bom menino, teve empatia pelas pessoas e conseguiu não fazer julgamentos precipitados ou preconceituosos esse ano?? Você merece comprar seu próprio presente de Natal?? A única certeza é que ninguém merece só receber os presentes de natal sem se esforçar em melhorar autenticamente como um ser humano, mas fazer várias boas ações, praticar gentileza sem ser recompensado também não é nada legal (é bem frustrante aliás!). Todo mundo quer algo em troca… então aproveite pra unir o útil ao agradável e manifeste um ato gentil altruísta de verdade, e troque esse ato gentil por um presente, o presente de ser admirado, por ser uma pessoa melhor neste Natal… Esse presente, de ser admirado, vale muito mais do que qualquer caneca de time de futebol de amigo-secreto, e isso eu garanto!!!

Thales Vieira

* A coluna "Cinema nos mínimos D'Thales" é de autoria de Thales Vieira e todo seu conteúdo é de crédito e responsabilidade do autor.

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