Quando se é uma criança gay há uma sensação de que algo está errado, mas não é uma sensação passageira, ela é uma constante, e logo você entende que o errado é você perante a visão da sociedade.
O ente religioso diz claramente que o inferno te espera, os heteros dizem o tempo todo o nojo que sentem ao verem demonstrações homoafetivas e a sociedade observa mortes decorrentes de assassinatos e suicídios e não evolui em sua legislação inclusiva e protetiva, confirmando a vontade popular de criar espaços de exclusão para aquilo que se considera diferente.
Logo que se entende que estar na posição de “errado” é uma condição, procura-se várias compensações, o bom filho, o melhor aluno ou mais comportado, o mais bonito, o mais atraente, o mais eficiente no serviço... é exaustivo.
A sexualidade vira uma competição de si contra si mesmo para sempre se tornar alguém melhor em uma espera constante de que as pessoas percebam e aceitem para fugir da rejeição e da violência.
Parece difícil para as pessoas separarem, mas não somos apenas uma sexualidade. Em fato, as pessoas não deveriam se incomodar com quem o outro se deita, isso costuma ser algo íntimo.
E não é possível que as demonstrações de carinho em público sejam tão incomodas ao ponto de não ser possível de ser observado como as demais pessoas ditas “normais” são livres para exercer e receber.
Ainda sobre essa busca exaustiva de ser alguém “bom” para ser aceito socialmente, precisamos chamar atenção para o fato de que a definição do que é considerado bom pela sociedade é um consenso estabelecido pela grande maioria, muitas vezes por líderes religiosos, portanto, existem grupos sociais que definirão o que é considerado bom.
Ter consciência e refletir que há um consenso social sobre o que é considerado bom é fundamental para observarmos que não ser bom é melhor.
Digo isso no sentido de ultrapassar o que se é esperado pelo social.
Ser melhor é conseguir ser e estar dentro dos próprios gostos, predicados e não estar mais satisfazendo as demandas alheias.
Tudo que me é alheio não me pertence. Há uma constante nesse sentimento de despertencimento e desamparo que pode ser mitigada pela sensação de alívio quando se deixa de exercer as vontades sociais e religiosas.
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